A casa de Francisca Dumont

A casa de Francisca Dumont

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A casa de Francisca Dumont
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PORTO

10/7/2025

31/10/2025

Inhabiting the Void

The House of Francisca Dumont is an exhibition built out of silence. Its title is a loose adaptation of the article “The House of Ricardo Severo”, published in 1906 in Diário Ilustrado. The coincidence is not accidental — it underscores what is missing. While the article celebrated the public figure of a man, this exhibition begins with the near-total absence of records about a woman: Francisca Santos Dumont (1877–1930).

Little is known about Francisca. We know she was born in Rio de Janeiro, lived in São Paulo, married, and had ten children. We know she was the sister of a famous aviator and the wife of a man with public recognition in culture and architecture. Her name has reached us only through these relationships. No word, no gesture, no memory directly attributed to her has survived — or if it has, it remains hidden in archives, yet to be discovered or valued. And perhaps that is why this exhibition is necessary.

Installed at Palacete Severo — in the very house where Francisca lived with Ricardo Severo — the exhibition proposes an exercise in critical imagination: a biographical simulacrum that does not aim to fill in the gaps with certainties, but to inhabit them with questions. Who was Francisca? What did she think? What did she desire?

Taking the domestic space as a point of departure — that place so often invisible and yet central in women’s lives — the exhibition reflects on the historical forms of female erasure. The house, here, becomes more than a setting: it is a body of memory. Each room suggests a hypothesis, each object summons a possible gesture.

More than telling the life of one specific woman, The House of Francisca Dumont invites reflection on how women’s stories have been (and continue to be) systematically omitted. Through fiction, it does not seek to fill the gaps with truths, but rather to open space for multiple possibilities of existence. Francisca becomes, here, a symbol for so many other women whose presence endured only in daily gestures, in imposed silences, and in the memory we dare to reconstruct.

In a time like ours, when rights once thought secured are beginning to be challenged, this “house” also speaks of the present. Women continue to face silencing, revealing how fragile rights can be when not accompanied by vigilance and action. The story of Francisca — or her absence — echoes the uncertainties of our time, reminding us that the struggle is not past nor guaranteed: it is ongoing, urgent, and collective.

Raquel Guerra

(Curator and resercher)

Habiter le vide

La Maison de Francisca Dumont est une exposition construite à partir du silence. Son titre est une adaptation libre de l’article « La Maison de Ricardo Severo », publié en 1906 dans le Diário Ilustrado. La coïncidence n’est pas fortuite — elle souligne ce qui manque. Tandis que l’article célébrait la figure publique d’un homme, cette exposition part de l’absence quasi totale de traces concernant une femme : Francisca Santos Dumont (1877–1930).

On sait peu de choses sur Francisca. Nous savons qu’elle est née à Rio de Janeiro, qu’elle a vécu à São Paulo, qu’elle s’est mariée et qu’elle a eu dix enfants. Nous savons aussi qu’elle était la sœur d’un célèbre aviateur et l’épouse d’un homme reconnu dans les domaines de la culture et de l’architecture. Son nom nous est parvenu uniquement à travers ces relations. Aucun mot, aucun geste, aucun souvenir directement attribué à elle ne nous est parvenu — ou, s’ils existent, ils demeurent enfouis dans des archives, encore à découvrir ou à valoriser. Et c’est peut-être pour cela que cette exposition s’avère nécessaire.

Présentée au Palacete Severo — dans la maison même où Francisca a vécu avec Ricardo Severo —, l’exposition propose un exercice d’imagination critique : un simulacre biographique qui ne cherche pas à combler les vides par des certitudes, mais à les habiter par des questions.
Qui était Francisca ? Que pensait-elle ? Que désirait-elle ?

Prenant l’espace domestique comme point de départ — cet espace si souvent invisible et pourtant central dans la vie des femmes —, l’exposition réfléchit aux formes historiques de l’effacement féminin. La maison devient ici plus qu’un décor : elle est un corps de mémoire. Chaque pièce suggère une hypothèse, chaque objet convoque un geste possible.

Plus qu’un récit sur une femme en particulier, La Maison de Francisca Dumont invite à réfléchir à la manière dont les histoires des femmes ont été (et continuent d’être) systématiquement omises. À travers la fiction, il ne s’agit pas de combler les vides par des vérités, mais d’ouvrir un espace pour une multiplicité de possibles. Francisca devient, ici, le symbole de tant d’autres femmes dont la présence n’a subsisté que dans les gestes du quotidien, dans les silences imposés, et dans la mémoire que nous osons reconstruire.

En un temps comme le nôtre, où des droits que l’on croyait acquis commencent à être remis en question, cette « maison » parle aussi du présent. Les femmes continuent d’être réduites au silence, révélant combien les droits sont fragiles s’ils ne sont pas accompagnés de vigilance et d’action. L’histoire de Francisca — ou son absence — résonne avec les incertitudes de notre époque, nous rappelant que la lutte n’est ni révolue ni garantie : elle est continue, urgente et collective.

Raquel Guerra
(Commissaire d'exposition et chercheuse)

Habitar o vazio

A casa de Francisca Dumont é uma exposição construída a partir do silêncio. O título adapta livremente o do artigo “A casa de Ricardo Severo”, publicado em 1906 no Diário Ilustrado. A coincidência não é inocente — ela sublinha o que está ausente. Enquanto o artigo celebrava a figura pública de um homem, esta exposição parte da ausência quase total de registos sobre uma mulher: Francisca Santos Dumont (1877–1930).

Pouco se sabe sobre Francisca. Sabemos que nasceu no Rio de Janeiro, viveu em São Paulo, casou-se, teve dez filhos. Sabemos que era irmã de um célebre aviador e casada com um nome com projeção pública na cultura e na arquitetura. É através dessas relações que o seu nome nos chegou. Nenhuma palavra, nenhum gesto, nenhuma memória que lhe seja diretamente atribuída chegou até nós — ou, se chegou, permanece oculta nos arquivos, por descobrir ou por valorizar. E talvez por isso esta exposição seja necessária.

Instalada no Palacete Severo - na casa onde Francisca efetivamente viveu com Ricardo Severo, a exposição propõe um exercício de imaginação crítica: um simulacro biográfico que não procura preencher as lacunas com certezas, mas habitá-las com perguntas. Quem era Francisca? O que pensava? O que desejava? 

Tomando o espaço doméstico como ponto de partida — esse lugar tantas vezes invisível e, no entanto, central na vida das mulheres — a exposição reflete sobre as formas históricas de apagamento feminino. A casa, aqui, torna-se mais do que um cenário: é um corpo de memória. Cada divisão sugere uma hipótese, cada objeto convoca um gesto possível.

Mais do que contar a vida de uma mulher específica, A casa de Francisca Dumont convida à reflexão sobre a forma como as histórias femininas foram (e ainda são) sistematicamente omitidas. Através da ficção, não se busca preencher lacunas com verdades, mas sim abrir espaço para múltiplas possibilidades de existência. Francisca torna-se, aqui, símbolo de tantas outras mulheres cuja presença resistiu apenas nos gestos cotidianos, nos silêncios impostos e na memória que ousamos reconstruir.

Num tempo como o que vivemos hoje, em que direitos que julgávamos conquistados começam a ser postos em causa, esta “casa” fala também do presente. As mulheres continuam a enfrentar silenciamentos, que revelam quão frágeis podem ser as garantias quando não são acompanhadas de vigilância e ação. A história de Francisca — ou a ausência dela — ecoa nas incertezas do nosso tempo, lembrando-nos de que a luta não é passado nem garantida: é contínua, urgente e coletiva.

Raquel Guerra

(Curadora e investigadora)

SELECTED ARTWORKS

Sélection d'oeuvres

OBRAS SELECIONADAS

Homenagem a Odete Margarido II
Liene Bosquê
Homenagem a Odete Margarido II
Cyanotype on cotton 30,5 x 30,5 cm
Cyanotype sur coton 30,5 x 30,5 cm
Cianotipia sobre algodão 30,5 x 30,5 cm
Chiado I
Liene Bosquê
Chiado I
Cyanotype on cotton 30,5 x 30,5 cm
Cyanotype sur coton 30,5 x 30,5 cm
Cianotipia sobre algodão 30,5 x 30,5 cm
Chiado II
Liene Bosquê
Chiado II
Cyanotype on cotton 61 x 30,5 cm
Cyanotype sur coton 61 x 30,5 cm
Cianotipia sobre algodão 61 x 30,5 cm
Homenagem a Odete Margarido I et II
Liene Bosquê
Homenagem a Odete Margarido I et II
Cyanotype on cotton fabric 30 x 30 cm (each)
Cyanotype sur tissu de coton 30 x 30 cm (chaque)
Cianotipia sobre tecido de algodão 30 x 30 cm (cada)
Homenagem a Odete Margarido III
Liene Bosquê
Homenagem a Odete Margarido III
Cyanotype on cotton textile 20,3 x 20,3 cm
Cyanotype sur textile de coton 20,3 x 20,3 cm
Cianotipia sobre tecido de algodão 20,3 x 20,3 cm
Maternidade
Liene Bosquê
Maternidade
Wax 5,5 cm
Cire 5,5 cm
Cera 5,5 cm
Sudário de Maria
Liene Bosquê
Sudário de Maria
Cyanotype on cotton fabric 109 x 94 cm
Cianotipia sobre tecido de algodão 109 x 94 cm
Cianotipia sobre tecido de algodão 109 x 94 cm
Sudário de Maria I
Liene Bosquê
Sudário de Maria I
Cyanotype on cotton fabric 109 x 42,5 cm
Cyanotype sur tissu de coton 109 x 42,5 cm
Cianotipia sobre tecido de algodão 109 x 42,5 cm
Sudário de Maria II
Liene Bosquê
Sudário de Maria II
Cyanotype on cotton fabric 109 x 42,5 cm
Cyanotype sur tissu de coton 109 x 42,5 cm
Cianotipia sobre tecido de algodão 109 x 42,5 cm
Série Dissimular
Patrícia Geraldes
Série Dissimular
Tea bags glued with polyvinyl acetate 90 X 60 cm each
Sachets de thé collés avec de l'acétate de polyvinyle 90 X 60 cm chacun
Saquinhos de chá colados com acetato de polivinilo 90 X 60 cm cada
Persistência e Repetição
Patrícia Geraldes
Persistência e Repetição
Wicker and Linen 150 x 60 cm
Osier et lin 150 x 60 cm
Vime e linho 150 x 60 cm
Livro de Choupo Branco
Patrícia Geraldes
Livro de Choupo Branco
Wooden sheets 20 X 25 cm
Feuilles de bois 20 X 25 cm
Folhas de madeira 20 X 25 cm
Escultura de plantas medicinais I
Patrícia Geraldes
Escultura de plantas medicinais I
Various medicinal plants 35 x 20 cm
Diverses plantes médicinales 35 x 20 cm
Várias plantas medicinais 35 x 20 cm
Escultura de plantas medicinais II
Patrícia Geraldes
Escultura de plantas medicinais II
Various medicinal plants 35 X 8 X 8 cm
Diverses plantes médicinales 35 X 8 X 8 cm
Várias plantas medicinais 35 X 8 X 8 cm
Escultura de plantas medicinais III
Patrícia Geraldes
Escultura de plantas medicinais III
Various medicinal plants 15 X 15 cm
Diverses plantes médicinales 15 X 15 cm
Várias plantas medicinais 15 X 15 cm
Escultura de plantas medicinais IV
Patrícia Geraldes
Escultura de plantas medicinais IV
Various medicinal plants 15 X 30 x 30 cm
Diverses plantes médicinales 15 X 30 x 30 cm
Várias plantas medicinais 15 X 30 x 30 cm
Escultura de plantas medicinais V
Patrícia Geraldes
Escultura de plantas medicinais V
Red fruit peel 28 X 15 cm
Pelures de fruits rouges 28 X 15 cm
Casca de frutos vermelhos 28 X 15 cm
Escultura de plantas medicinais IV
Patrícia Geraldes
Escultura de plantas medicinais IV
Black tea 20 X 15 cm
Thé noir 20 X 15 cm
Chá preto 20 X 15 cm
Escultura de plantas medicinais VI
Patrícia Geraldes
Escultura de plantas medicinais VI
Chamomile flower 20 X 30 cm
Fleur de camomille 20 X 30 cm
Flor de camomila 20 X 30 cm
Escultura de plantas medicinais VII
Patrícia Geraldes
Escultura de plantas medicinais VII
Red fruit peel 10 X 6 cm
Ecorces de fruits rouges 10 X 6 cm
Casca de frutos vermelhos 10 X 6 cm
Escultura de plantas medicinais VIII
Patrícia Geraldes
Escultura de plantas medicinais VIII
Various medicinal plants 20 X 20 cm
Diverses plantes médicinales 20 X 20 cm
Várias plantas medicinais 20 X 20 cm
Escultura de plantas medicinais X
Patrícia Geraldes
Escultura de plantas medicinais X
Various medicinal plants 25 X 7 cm
Diverses plantes médicinales 25 X 7 cm
Várias plantas medicinais 25 X 7 cm
Untitled I (Time Capsule series)
Sofia Leitão
Untitled I (Time Capsule series)
Oil pastel and charcoal pencil on paper 100 x 71 cm
Pastel à l'huile et fusain sur papier 100 x 71 cm
Pastel de óleo e lápis de carvão sobre papel 100 x 71 cm
Untitled II (Time Capsule series)
Sofia Leitão
Untitled II (Time Capsule series)
Oil pastel and charcoal pencil on paper 100 x 71 cm
Pastel à l'huile et fusain sur papier 100 x 71 cm
Pastel de óleo e lápis de carvão sobre papel 100 x 71 cm
Green man
Sofia Leitão
Green man
Polyurethane foam, mirror, lenticular film (plastic), plastic, amethyst, quartz, pyrite, rubber, contact glue and glue and seal transparent 40 x 42 x 36 cm
Mousse de polyuréthane, miroir, film lenticulaire (plastique), plastique, améthyste, quartz, pyrite, caoutchouc, colle de contact et colle et joint transparent 40 x 42 x 36 cm
Espuma de poliuretano, espelho, película lenticular (plástico), plástico, ametista, quartzo, pirite, borracha, cola de contacto e cola e vedante transparente 40 x 42 x 36 cm
Untitled (stones)
Sofia Leitão
Untitled (stones)
Glass beads, glue, molding paste 3 elements: 13 x 14 x 9 cm (large green) 11 x 7 x 10 cm (small green) 15 x 11 x 12 cm (blue)
Perles de verre, colle, pâte à modeler 3 éléments : 13 x 14 x 9 cm (grand vert) 11 x 7 x 10 cm (petit vert) 15 x 11 x 12 cm (bleu)
Contas de vidro, cola, pasta de moldar 3 elementos: 13 x 14 x 9 cm (verde grande) 11 x 7 x 10 cm (verde pequeno) 15 x 11 x 12 cm (azul)
Untitled (carpet)
Sofia Leitão
Untitled (carpet)
Acrylic beads on polyurethane foam, glue 120 x 53 x 30 cm
Perles acryliques sur mousse de polyuréthane, colle 120 x 53 x 30 cm
Contas acrílicas sobre espuma de poliuretano, cola 120 x 53 x 30 cm
The chasm
Vera Matias
The chasm
Oil, ink and unbleached cloth on canvas 160 x 200 cm
Huile, encre et tissu écru sur toile 160 x 200 cm
Óleo, tinta e tecido cru sobre tela 160 x 200 cm
Where birds come to land
Vera Matias
Where birds come to land
Oil, ink and unbleached cloth on canvas 50 x 60 cm
Huile, encre et tissu écru sur toile 50 x 60 cm
Óleo, tinta e tecido cru sobre tela 50 x 60 cm
The box
Vera Matias
The box
Acrylics, shellac, cardboard, tape and unbleached cloth on canvas 140 x 150 cm
Acrylique, gomme-laque, carton, ruban adhésif et tissu écru sur toile 140 x 150 cm
Acrílicos, goma-laca, cartão, fita adesiva e tecido cru sobre tela 140 x 150 cm
Crack!
Vera Matias
Crack!
Oil on canvas 100 x 160 cm (2 panels)
Huile sur toile 100 x 160 cm (2 panneaux)
Óleo sobre tela 100 x 160 cm (2 painéis)
Vush!
Vera Matias
Vush!
Oil on canvas 100 x 160 cm (2 panels)
Huile sur toile 100 x 160 cm (2 panneaux)
Óleo sobre tela 100 x 160 cm (2 painéis)
The clouds factory
Vera Matias
The clouds factory
Oil on canvas 90 x 100 cm
Huile sur toile 90 x 100 cm
Óleo sobre tela 90 x 100 cm
Skeleton
Vera Matias
Skeleton
Oil, ink and unbleached cloth on canvas 250 x 200 cm (4 panels)
Huile, encre et tissu écru sur toile 250 x 200 cm (4 panneaux)
Óleo, tinta e tecido cru sobre tela 250 x 200 cm (4 painéis)
Árvore Fantasma
Abel Mota
Árvore Fantasma
Oil on canvas 226 x 93 cm
Huile sur toile 226 x 93 cm
Óleo sobre tela 226 x 93 cm
Casa das Laranjas
Abel Mota
Casa das Laranjas
Oil on canvas 150 x 189 cm
Huile sur toile 150 x 189 cm
Óleo sobre tela 150 x 189 cm

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